Escrevo como
quem teme diluir a própria memória. Saco do bolso um punhado de passado. Do
alto de um tempo sem prumo, vejo a fosforescência da antiga escola e o
eucalipto com que o vento ameaça nossa insignificância. Debruçada nesse tempo, cuspo
as pessoas que confundem meu sexo comigo. Sou miúda e já de olhos perdidos, já
sem escolha diante do sensível. Já estocando reminiscências para quando, vazia
de nome e endereço, eu finalmente escapar da única prisão que existe. Quando eu
for apenas duas letras de um som remoto.
Invadimos a cidadela do corpo alheio. Marchamos desarmados
com a segurança dos ignorantes. Mas nossos passos desatentos deslizaram para o
nada. Porque o corpo era abismo vestido de promessa. A paisagem suntuosa era
esculpida no desejo. Resta-nos aceitar a vertigem. Entramos para saquear e saímos
nus.