A ditadura
da felicidade é o que há de mais cruel em nossa época. Como nunca antes, somos
soterrados por imagens sorridentes, apaixonadas, saudáveis e ricas. Só que,
obviamente, nem eu nem você estamos entre essas imagens. Desconfio que
pertencemos ao grupo dos “mais ou menos”. Os “mais ou menos” em paz, independente da
preocupação com dinheiro ou com amor (não necessariamente nesta ordem). Alegres,
nunca FELIZES. Porque a gente que é “mais ou menos” costuma perguntar demais. E
a felicidade não admite ser questionada. Estamos de lupa em punho, dissecando a
felicidade. Por isso suspeitamos dela. Não podemos aceitar com naturalidade que
o lixo de uns seja o ouro de outros...
Como
representante dessa maioria que é naturalmente “mais ou menos”, sinto-me no
direito de solicitar, com a justa indignação: 1) Que os atores dessa ditadura tenham
a decência de representar sua comédia em outro lugar; 2) Que o dilúvio até
então contido desabe sobre essa histeria coletiva do riso, e choremos mesmo o
que dói no corpo alheio. Em nome dos que desaprenderam a amar. Em nome dos que
não têm motivo para sorrir.