Às vezes te mandam beijo por mim e para encurtar a conversa prometo entregar. Mas meu sorriso escorre pelos ladrilhos do rosto. Não posso me dar ao luxo de desperdiçar um beijo assim. Guardo mais esse entre meus badulaques, na esperança de que não enferruje. Um dia, feito cortejo, inda saio paramentada com todos esses beijos.


“To me guardando pra quando o carnaval chegar”
Sei que não és sol posto, quietude de superfície nem rimas com bucólico. Eu que sou o Eduardo da música. Tanto mais apressado, mais anacrônico. Se visses quanta ternura descabida deu lugar a isto que descortino como quem abre a casa para não mofar. Quanta palavra amontoada no pé da cama! Sei que não pertences e que um passo em falso é despencar no teu vórtice de luz. As ideias perdendo a compostura, frases sem nexo, pontos entorpecidos, inconscientes. Eu entre teus parênteses, sufocado. Repetindo, repetindo a ladainha que aquieta tuas marés. E o embrião do nosso dia seguinte eternamente inconcebível.                                                                                                                                               



- Mas só me chamas pelo nome!
- De teu só há isso
- Quando começou?
- Quando deixou de ser
- Choraste?
Saí


[CONTRA-PONTO]
Palavra frígida! Diga como gostas, qual o ritmo, onde ponho teu ponto. Duas mãos, tantas línguas, mas não despertas dessa apatia. Olhei para o já dito, e a expectativa me petrificou em sal. Nada mais colérico que uma falsa promessa de prazer. Me empresta uma imagem pra eu gozar? Te devolvo branca.


[Que estranha impotência a vossa]